O chão estava úmido devido à
chuva da noite anterior. Havia folhas negras
e apodrecidas no solo que exalavam um odor amadeirado e fétido ao mesmo tempo.
Já não se ouvia os urros e gritos de bravura que os homens lançavam ao ar tão
fervorosamente no inicio da jornada rumo à guerra. Já havia passado cinquenta e
nove dias desde que partiram de Stavianath e os sessenta e sete mil homens já
demostravam sinais de fadiga devido às intempéries da marcha através da
floresta. A trilha era estreita na mata. Fazendo com que os soldados tivessem
que cavalgar em filas formando uma enorme serpente humana atravessando a
floresta.
Ainda estavam na metade do
caminho, atravessando a floresta Delron e muitos questionavam a imprudência de
escolher esta rota. Ainda teriam que atravessar a cordilheira Trulai-On e este
era o maior temor dos homens. Se os Hellin-odelianos estivessem armado uma emboscada
seria necessário apenas algumas centenas de bons arqueiros para tornar aquela
passagem intransponível. Cron contava com uma passagem secreta por baixo das
montanhas, mas as histórias que se contavam sobre os habitantes dos
subterrâneos amedrontavam até mesmo os valentes.
Todas as noites, quando os
homens armavam acampamento, todos viam milhares de pequenos pares de luzes
azuladas os observando. Pareciam vaga-lumes, porem permanecia imóvel entre
arbustos ou em cima das arvores. Certa vez um soldado lançou uma flecha em
direção a floresta onde havia várias luzes e inexplicavelmente o soldado caiu
morto logo em seguida. Rapidamente uns trinta companheiros do soldado
desembainharam suas espadas e adentraram a floresta gritando seus gritos de
guerra. Logo se silenciaram e nenhum voltou. Quando soube da noticia, Crane
enviou mais cinquenta homens floresta adentro e ao amanhecer mais cem homens
foram em busca dos desaparecidos. Nenhum deles voltou. Foi Adrien que disse aos
irmãos que provavelmente eram os filhos da floresta. Os elfos, e segundo dizem
são pacíficos.
_Se não os atacarmos eles não
nos atacarão. –Argumentou Adrien
Adrien sempre foi o mais
precavido dos três. Foi ele que deixou o velho Sarkis incumbido de enviar
mensagens caso ocorresse qualquer urgência no reino. O bom Sarkis havia sido um
soldado valoroso em seus tempos áureos. Aposentara devido a um ferimento que
sofreu na perna direita em uma batalha contra os homens do deserto. Na época do
ferimento o bom homem ainda estava com seus cinquenta e cinco anos. Forte e
vigoroso com seu machado de guerra, mas o ferimento o deixou manco e logo ele
percebeu que não seria mais o mesmo, pois agora necessitava de uma muleta para
se locomover. Desde então havia se dedicado a cuidar dos pombos mensageiros, se
tornando um amigo e confidente do rei e de seus filhos.
“_Caso
ocorra qualquer coisa inesperada no reino ou com meu pai me envie uma mensagem,
Sarkis. Não importa quão insignificante seja.”-
Ordenara-lhe Adrien no dia que partiram. Desde então, quase que semanalmente um
mensageiro trazia uma mensagem a Adrien. Os pombos traziam a mensagem até uma
torre situada nos limites externos da floresta e lá um dos mensageiros deixados
por Adrien vinha com cavalos treinados para serem velozes até mesmo em terrenos
hostis e entregavam a mensagem a Adrien. Os mesmos mensageiros às vezes também
traziam mensagens das naus enviadas para fazerem o ataque marítimo a
Hellin-Odel.
A frota marítima de Hellin-Odel
era extremamente poderosa, mas as naus de guerra de Stavianath seria apenas uma
distração para as tropas terrestres de Stavianath atacarem pelo sudeste do
reino assim que eles atravessassem a cordilheira. “_Com certeza eles esperam que nosso ataque seja todo feito pelo mar” -
Pensava Cron.
Cento e quinze dias após o
inicio da jornada, os batedores trouxeram uma noticia que deixou Cron e Crane
enraivecidos. Apenas Adrien demonstrava já está esperando por algo semelhante.
_Um exército numeroso espera
por nós aos pés das montanhas. –Anunciou um batedor.
_Malditos! Lá se foi nosso
ataque surpresa. Pois que assim seja. Nós os destruiremos aos pés das
montanhas. –Esbravejou Cron.
_E as montanhas serão eternas
testemunhas de nossa bravura! –Completou Crane enquanto os homens gritavam
hurras e gritos de guerra fazendo os pássaros levantar voo dos altos das
árvores.
_Devemos arquitetar um plano de
ataque irmãos. –Disse Adrien sem empolgação. _Afinal de contas eles estão com a
vantagem do terreno elevado ao lado deles.
Os irmãos ainda o olhavam com desprezo
quando um mensageiro trouxe uma mensagem para Adrien. Aquele era realmente um
dia de má noticias. Os olhos de Adrien se arregalaram e logo em seguida ele
levou à mão a boca em espanto.
_Temos que voltar... Agora!
_Que loucura estas falando
irmão?
_Stavianath está sendo atacada.
Temos que voltar. Mataram nosso pai.
_Como assim? Quem atacou? E os
markdenos? Não saíram em auxílio?
_Isto é o mais espantoso. Foram
os markdenos que nos atacaram.
_Não podemos retornar assim.
–Afirmou Cron pensativo. _Somos mais de sessenta mil homens em marcha em um
terreno desvantajoso. Reposicionarmo-nos gastara quase um dia. E se os
Hellin-odelianos souberem que estamos recuando cairão sobre nós. Estaremos em
desvantagem se formos atacados pelas costas. Mesmo que o exército deles esteja
em menor número.
_Mas eles estão destruindo
nossas cidades, mataram nosso pai e estão destruindo nosso povo. Que soldado
aqui lutará por nós sabendo que seus familiares estão sendo massacrados.
–Adrien tinha lágrimas nos olhos enquanto falava.
_Irmão, Adrien tem razão. Temos
que retornar, por nosso povo, por nosso pai. –Disse Crane.
_Então eu garantirei que
retornem sem serem atacados pelas costas. –Afirmou convicto Cron e em seguida
pronunciou o seguinte discurso:
“_Homens
de Stavianath, nosso reino está sob o ataque daqueles que pensávamos serem
nossos aliados. Os markdenos cometeram a maior e desonrosa traição para
conosco. Mas eles pagarão. Juro que pagarão. Todavia para garantir que eles
paguem temos que garantir que os Hellin-odelianos não nos ataquem enquanto
retornamos ao amparo de Stavianath. Preciso de nove mil homens de coragem para
eliminar ou retardar os Hellin-odelianos aos pés das montanhas. Juntem se a mim
aqueles que desejam lutar ao meu lado. Haverá três homens para cada um de nós.
E nós mataremos todos eles e após a vitória juntaremos aos nossos irmãos para
libertarmos Stavianath. Agora eu pergunto, QUEM ESTÁ COMIGO?”
No final mais de nove mil
homens queriam se juntar ao príncipe Cron. Contudo ele levou somente os nove
mil. Os outros começaram o retorno a Stavianath.
Cron e os nove mil homens
saíram galopando velozmente pelos campos verdejantes aos pés das montanhas rumo
à batalha. Eles gritavam e cantavam canções de guerra. Cron era um bravo
guerreiro e seus homens eram leais a ele. Aquela foi a ultima vez que Cron e
seus homens foram vistos.