Aos
primeiros raios de Álax os cavaleiros de Obadian Teron juntamente com os
feridos Andivari, Vladislav e Verbena chegaram ao acampamento militar dos
soldados de Obadian. Eles haviam cavalgado durante a noite toda. Eram mais de
dois mil homens espalhados em tendas por todo o Vale. Uma carroça puxada por
dois cavalos fortes e guiada por um soldado esguio levava Andivari e Vladislav
que se encontravam feridos demais para cavalgarem enquanto que Verbena ganhara
uma roupa nova e cavalgava ao lado do general Teron. Ela possuía alguns
hematomas, mas nada grave comparado aos ferimentos de Andivari e Vladislav.
Andivari já estava sofrendo as agonias febris de seu ferimento inflamado no
rosto e o novo ferimento sofrido no ombro apenas agravou seu estado. Vladislav
sofrera vários cortes por todo corpo. Nenhum havia sido fatal, mas a perda de
sangue o deixara bastante debilitado.
Os
homens no acampamento eram tagarelas por natureza. Por várias vezes Verbena
ouviu comentários grosseiros e maliciosos ao seu respeito. Mesmo que tenham
sido meros sussurros, não deixavam de deixá-la envergonhada e até enojada de
alguns soldados. Os soldados possuíam
cabelos e barbas ruivas em sua maioria. Todos vestiam cotas de malha e mantas
verde-musgo por sobre o ombro. Alguns ainda utilizavam chapéus de couro de
raposa ou elmos de bronze sob a cabeça. Pela quantidade de rastros e merda de
cavalo que havia no chão, estavam acampados naquele local por um longo tempo.
Verbena viera, a saber, mais tarde que aquele era o ponto de apoio de onde partiam
as buscas por fugitivos do povo de Stavianath. Ficava justamente na divisa
entre Markden e Stavianath. Passaram por um descampado entre as tendas onde
havia uma forca com seis cordas amarradas em forma de laço.
_Siga-me até
minha tenda. –Disse Obadian Teron a Verbena quando adentraram o acampamento.
_Mas... Meus
amigos...?!
_Não se preocupe
com eles. Meu curandeiro irá cuidar de cada um deles pessoalmente.
Não encontrando alternativa viável,
Verbena seguiu Obadian pelo acampamento até sua tenda. Desmontaram de suas
montarias e um criado cuidou de levar seus cavalos até o estábulo improvisado
que havia sido construído na parte oeste do acampamento. O chão estava
impregnado de lama e cada passo que dava Verbena sentia mais lama entre seus
dedos que provavelmente havia entrado em sua bota por algum furo no solado.
Quando estava passando pela entrada
da tenda seguindo Obadian, foi barrada por um soldado que ficou entre ela e
Obadian.
_Senhorita, me
desculpe, mas terá que deixar sua espada comigo. -Disse o soldado apontando
para a espada que Verbena trazia junto à cintura. _São regras para mantermos a
segurança do general.
_Não é
necessário soldado. Deixe-a passar. -disse Obadian virando se para trás ao
perceber o que ocorria. _Se eu não for capaz de me defender de uma donzela, não
sou merecedor do título de general.
_Como queira
senhor. Mas todo cuidado é pouco. Temos tido problemas com mulheres armadas
nesses últimos dias.
Verbena
manteve a espada consigo e adentrou a tenda que era mais espaçosa do que
parecia. Havia almofadas de plumas espalhadas pelo ambiente e um enorme tapete
de peles de lobos no chão. Mesmo com a chuva do dia anterior, o chão permanecia
sempre seco, pois a tenda havia sido construída numa enorme plataforma de
madeira suspensa uns trintas centímetros do solo. Em uma mesa no centro estava
estirado um mapa que Verbena julgou ser das redondezas. Um ponto no centro do
mapa parecia indicar a localização do acampamento e três setas desenhadas no
mapa apontavam para esse ponto vindo de diferentes lados.
_O que seu
soldado quis dizer com “mulheres armadas nesses dias”? -questionou Verbena como
quem inicia uma conversa aleatória para cortar o silêncio constrangedor. _Não
vi nenhuma mulher no acampamento em momento algum.
_Algumas
mulheres têm feito ataques ao nosso acampamento. Elas vêm de canto algum,
galopando em cima de seus cavalos e armadas com arcos de longo alcance, efetuam
uma saraivada de flechas sobre nós e fogem para a floresta logo em seguida. Um
grupo tentou segui-las, mas foram emboscados e mortos a algumas léguas daqui.
Os homens as estão chamando de “as viúvas de Stavianath”. Mas não se preocupe.
Destaquei um grupo seleto de soldados para descobrirem o esconderijo dessas
senhoras e convencê-las que a luta delas está perdida e o melhor a fazerem
seria se entregarem.
_Se entregarem
para serem estupradas por seus homens? - perguntou Verbena com um tom de
indignação na voz mais acentuado do que pretendia ter dito.
_Não sou homem
que apoie esse tipo de violência. -respondeu Obadian Teron enquanto se servia
de uma taça de vinho e enchia outra para Verbena. _Você mais do que ninguém
deveria ter consciência disso.
_Não é o que
dizem os sobreviventes das vilas por onde você e seus homens passaram. As marcas da crueldade estão cravadas na
terra por onde seus homens pisam.
_A guerra por si
só é cruel, mulher. Muitos morrem e às vezes não são somente soldados. Mas não
acredite em boatos que os ventos da desgraça trazem. Eu trato meus prisioneiros
com dignidade. Alimento cada um deles todos os dias. E os mantenho protegidos
do frio. Você mesma poderá ver com seus próprios olhos se assim desejar. Mas
porque essa preocupação toda com os Sthavianathos? Não foram eles que estavam atacando você e
seus amigos quando nós a salvamos de ser violada?
_Sim. E serei
eternamente grata por isso, senhor general. Mas não creio que todo um povo
mereça meu desprezo por causa de alguns homens. Essa guerra toda é muito
confusa para mim. O povo de Stavianath se mostrou bastante hospitaleiro quando
estive entre eles. Antes de isso tudo acontecer… - por um momento Verbena se
perdeu em um devaneio. Lembrou-se do jovem príncipe Gamblior. De como ele
falava da princesa Kathrina. De como ele era apaixonado por ela e de como ela
também olhava para o príncipe. Um olhar de amor correspondido. Agora ambos
estavam mortos. O mundo é injusto! -concluiu seus pensamentos. _Ainda assim, eu
mesma vi a crueldade com o qual os soldados atacaram Stavianath.
_ No ataque a
Stavianath os soldados de meu povo ainda estavam irados pela atitude impensada
dos príncipes de Stavianath. Como representantes de um povo, os príncipes
agiram erroneamente declarando guerra a toda uma nação utilizando como motivo
um crime ainda não resolvido. -argumentava Obadian Teron enquanto bebericava
seu vinho. _ Claro que era somente uma desculpa para atacar um reino que vinha
crescendo economicamente graças a suas minas de Tolnd. Somos um povo pacífico,
mas quando descobrimos que nós seriamos os próximos alvos dos príncipes
guerreiros, não restou outra coisa a não ser atacar com tudo. Era plano dos
Sthavianathos dominar seu povo para tomar as minas de Tolnd e logo em seguida
atacar meu povo por causa de nossas extensas florestas que é uma rica fonte de
boa madeira. Com essas ações eles não só quebrariam todos os acordos do tratado
da trindade do norte como levaria nossos reinos a falência.
_ E o que viria
ser o tratado da trindade do norte? -perguntou verbena enquanto se sentava em
um amontoado de almofadas de plumas e encostava as costas na estaca central da
tenda.
_Bem, - começou
Obadian Teron inflando o peito e demostrando um prazer agradável naquela
conversa. _O tratado da trindade do norte foi um documento assinado pelos três
maiores reinos do norte. Era um documento que alegava união, apoio e amizade
entre os reinos de Hellin-Odel, Stavianath e Markden. Diz à história que esse
tratado fora assinado logo após o termino da Grande Batalha contra os Kandors,
séculos atrás.
_Kandors? Eles
realmente existiram? -perguntou Verbena com uma tonalidade meiga na voz.
_Bem, se eles existiram,
eu não sei por que nunca vi um. Mas nos relatos mais antigos da história, os
Kandors são relatados como seres vindos do céu e que…
E assim o dia foi passando. Uma taça
se tornou uma jarra e logo se quase se tornou duas. Verbena estava grata por
ter aprendido a beber grandes quantidades de vinho com seu falecido irmão.
Verdade era que Verbena estava com muito medo de Obadian Teron. Tudo que ela
queria era se juntar aos seus amigos e saírem o mais depressa daquele lugar.
Ela vira com os próprios olhos o massacre promovido pelos soldados markdenos na
capital de Stavianath e nada que Obadian Teron dissesse a faria se sentir
segura. Mesmo tendo sido salva por eles, ainda temia pela vida. Todavia o dia
ocorreu tranquilo. Ao meio dia fora servido uma refeição farta e durante a
tarde foi levada até a tenda onde seus amigos estavam sendo tratados. Vladislav
despertou ao entardecer, mas Andivari dormiu durante o dia e a noite toda.
Verbena também vira a prisão de madeira onde mais de duzentas mulheres,
crianças e velhos eram mantidos. A falta de homens fortes na prisão confirmou
as suspeitas de Verbena de que Obadian Teron não era homem de deixar inimigos
que o ameaçasse vivo.
Obadian Teron deu lhe passe para ir e
vir no acampamento. “_ para que você possa vê seus amigos à hora que você
desejar.” - ele dissera. Mas Verbena sentia que sempre havia alguém a
observando. Seguindo seus passos.
Acho que devia voltar a escrever...e continuar a história. Principalmente os capítulos sobre Verbena.
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