sexta-feira, 27 de março de 2015

Mensagens de Guerra

O chão estava úmido devido à chuva da noite anterior.  Havia folhas negras e apodrecidas no solo que exalavam um odor amadeirado e fétido ao mesmo tempo. Já não se ouvia os urros e gritos de bravura que os homens lançavam ao ar tão fervorosamente no inicio da jornada rumo à guerra. Já havia passado cinquenta e nove dias desde que partiram de Stavianath e os sessenta e sete mil homens já demostravam sinais de fadiga devido às intempéries da marcha através da floresta. A trilha era estreita na mata. Fazendo com que os soldados tivessem que cavalgar em filas formando uma enorme serpente humana atravessando a floresta.

Ainda estavam na metade do caminho, atravessando a floresta Delron e muitos questionavam a imprudência de escolher esta rota. Ainda teriam que atravessar a cordilheira Trulai-On e este era o maior temor dos homens. Se os Hellin-odelianos estivessem armado uma emboscada seria necessário apenas algumas centenas de bons arqueiros para tornar aquela passagem intransponível. Cron contava com uma passagem secreta por baixo das montanhas, mas as histórias que se contavam sobre os habitantes dos subterrâneos amedrontavam até mesmo os valentes. 
Todas as noites, quando os homens armavam acampamento, todos viam milhares de pequenos pares de luzes azuladas os observando. Pareciam vaga-lumes, porem permanecia imóvel entre arbustos ou em cima das arvores. Certa vez um soldado lançou uma flecha em direção a floresta onde havia várias luzes e inexplicavelmente o soldado caiu morto logo em seguida. Rapidamente uns trinta companheiros do soldado desembainharam suas espadas e adentraram a floresta gritando seus gritos de guerra. Logo se silenciaram e nenhum voltou. Quando soube da noticia, Crane enviou mais cinquenta homens floresta adentro e ao amanhecer mais cem homens foram em busca dos desaparecidos. Nenhum deles voltou. Foi Adrien que disse aos irmãos que provavelmente eram os filhos da floresta. Os elfos, e segundo dizem são pacíficos.
_Se não os atacarmos eles não nos atacarão. –Argumentou Adrien
Adrien sempre foi o mais precavido dos três. Foi ele que deixou o velho Sarkis incumbido de enviar mensagens caso ocorresse qualquer urgência no reino. O bom Sarkis havia sido um soldado valoroso em seus tempos áureos. Aposentara devido a um ferimento que sofreu na perna direita em uma batalha contra os homens do deserto. Na época do ferimento o bom homem ainda estava com seus cinquenta e cinco anos. Forte e vigoroso com seu machado de guerra, mas o ferimento o deixou manco e logo ele percebeu que não seria mais o mesmo, pois agora necessitava de uma muleta para se locomover. Desde então havia se dedicado a cuidar dos pombos mensageiros, se tornando um amigo e confidente do rei e de seus filhos.
“_Caso ocorra qualquer coisa inesperada no reino ou com meu pai me envie uma mensagem, Sarkis. Não importa quão insignificante seja.”- Ordenara-lhe Adrien no dia que partiram. Desde então, quase que semanalmente um mensageiro trazia uma mensagem a Adrien. Os pombos traziam a mensagem até uma torre situada nos limites externos da floresta e lá um dos mensageiros deixados por Adrien vinha com cavalos treinados para serem velozes até mesmo em terrenos hostis e entregavam a mensagem a Adrien. Os mesmos mensageiros às vezes também traziam mensagens das naus enviadas para fazerem o ataque marítimo a Hellin-Odel.
A frota marítima de Hellin-Odel era extremamente poderosa, mas as naus de guerra de Stavianath seria apenas uma distração para as tropas terrestres de Stavianath atacarem pelo sudeste do reino assim que eles atravessassem a cordilheira. “_Com certeza eles esperam que nosso ataque seja todo feito pelo mar” - Pensava Cron.
Cento e quinze dias após o inicio da jornada, os batedores trouxeram uma noticia que deixou Cron e Crane enraivecidos. Apenas Adrien demonstrava já está esperando por algo semelhante.
_Um exército numeroso espera por nós aos pés das montanhas. –Anunciou um batedor.
_Malditos! Lá se foi nosso ataque surpresa. Pois que assim seja. Nós os destruiremos aos pés das montanhas. –Esbravejou Cron.
_E as montanhas serão eternas testemunhas de nossa bravura! –Completou Crane enquanto os homens gritavam hurras e gritos de guerra fazendo os pássaros levantar voo dos altos das árvores.
_Devemos arquitetar um plano de ataque irmãos. –Disse Adrien sem empolgação. _Afinal de contas eles estão com a vantagem do terreno elevado ao lado deles.
Os irmãos ainda o olhavam com desprezo quando um mensageiro trouxe uma mensagem para Adrien. Aquele era realmente um dia de má noticias. Os olhos de Adrien se arregalaram e logo em seguida ele levou à mão a boca em espanto.
_Temos que voltar... Agora!
_Que loucura estas falando irmão?
_Stavianath está sendo atacada. Temos que voltar. Mataram nosso pai.
_Como assim? Quem atacou? E os markdenos? Não saíram em auxílio?
_Isto é o mais espantoso. Foram os markdenos que nos atacaram.
_Não podemos retornar assim. –Afirmou Cron pensativo. _Somos mais de sessenta mil homens em marcha em um terreno desvantajoso. Reposicionarmo-nos gastara quase um dia. E se os Hellin-odelianos souberem que estamos recuando cairão sobre nós. Estaremos em desvantagem se formos atacados pelas costas. Mesmo que o exército deles esteja em menor número.
_Mas eles estão destruindo nossas cidades, mataram nosso pai e estão destruindo nosso povo. Que soldado aqui lutará por nós sabendo que seus familiares estão sendo massacrados. –Adrien tinha lágrimas nos olhos enquanto falava.
_Irmão, Adrien tem razão. Temos que retornar, por nosso povo, por nosso pai. –Disse Crane.
_Então eu garantirei que retornem sem serem atacados pelas costas. –Afirmou convicto Cron e em seguida pronunciou o seguinte discurso:
“_Homens de Stavianath, nosso reino está sob o ataque daqueles que pensávamos serem nossos aliados. Os markdenos cometeram a maior e desonrosa traição para conosco. Mas eles pagarão. Juro que pagarão. Todavia para garantir que eles paguem temos que garantir que os Hellin-odelianos não nos ataquem enquanto retornamos ao amparo de Stavianath. Preciso de nove mil homens de coragem para eliminar ou retardar os Hellin-odelianos aos pés das montanhas. Juntem se a mim aqueles que desejam lutar ao meu lado. Haverá três homens para cada um de nós. E nós mataremos todos eles e após a vitória juntaremos aos nossos irmãos para libertarmos Stavianath. Agora eu pergunto, QUEM ESTÁ COMIGO?”
No final mais de nove mil homens queriam se juntar ao príncipe Cron. Contudo ele levou somente os nove mil. Os outros começaram o retorno a Stavianath.

Cron e os nove mil homens saíram galopando velozmente pelos campos verdejantes aos pés das montanhas rumo à batalha. Eles gritavam e cantavam canções de guerra. Cron era um bravo guerreiro e seus homens eram leais a ele. Aquela foi a ultima vez que Cron e seus homens foram vistos.

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