Gamblior estava inquieto em sua tenda real. Comeu as tortas de carne que uma jovem serva lhe trouxera apenas para se manter alimentado pois o seu apetite estava escasso. O dia estava agradável. A estrela Álax emprestou seus raios luminosos pela maior parte do dia. Quentes raios cortavam as nuvens tão raramente naquelas regiões.
Ao aproximar a escuridão da noite o acampamento inteiro parava. Homens buscavam lenha nas redondezas e logo vários pontos luminosos surgiram na estrada. Eram as fogueiras que ajudavam a aquecer e afastava os animais selvagens que caçavam à noite. A estrada era larga e uma fina grama queimada pelo frio cobria a maior parte do caminho. Ao redor, longos pinheiros enfileiram as bordas impedindo se enxergar muito além floresta adentro.
Gamblior costumava sair para beber e conversar com os capitães e soldados da escolta toda noite ao lado de uma fogueira. Atitude geralmente questionada pelos senhores e lordes que também viajavam na comitiva. Mas ninguém se opôs a sua atitude. Afinal, ele era o príncipe de todo reino de Hellins.
Quando o príncipe se aproximou todos os homens se levantaram e se prepararam para fazer uma reverência.
_ Parem com isso. -Exclamou Gamblior. Hoje não quero nenhuma formalidade. Vamos apenas beber e falar besteiras. Afinal, quando eu for casado com Kathrina meus dias de beberrão terão se findado.
_Então você é homem que se deixa ser dominado por mulher meu jovem príncipe? -Disse um velho soldado que vestia a capa vermelha dos Águias Rubras já bem desgastado e uma barba grisalha que se emendava com seus cabelos longos. O tapa-olho ao lado direito do seu rosto lhe rendeu o apelido de “Ciclope”. Ao seu lado, Gandry “Pé de bigorna” servia uma caneca de cerveja para o jovem príncipe. Logo ambos sentaram ao lado de Gamblior e o entregaram a caneca de cerveja escura. A fogueira crepitava alta aquecendo todos. O príncipe estava feliz. Falava em como conhecera Kathrina e o quanto tinha certeza de que seria o escolhido por ela.
_Já está tudo programado. Eu e Kathrina estamos nos correspondendo a dois anos. Ela está apaixonada por mim desde que a vi nas festividades de meu décimo quinto ano de nascimento. -Dizia com tom orgulhoso enquanto bebia longos goles de cerveja.
A noite começava a adentrar e quase todos bebiam e riam alto no acampamento. Os soldados de plantão se esforçaram para não cantarolar as músicas que o bardo tocava freneticamente em seu instrumento de cordas. Talvez por isso não perceberam quando a pequena Jasmine, filha mais nova de Malak, atravessou o cerco e pulou em direção ao príncipe Gamblior caindo em seu colo. Inicialmente todos olharam assustados, inclusive o príncipe. Alguns soldados até chegaram a erguerem suas lanças, mas quando o príncipe pegou a pequena criança nos braços e começou a girar cantarolando e rindo todos riram juntos.
_ Que vergonha hein capitão. Fui pego por uma criança desarmada e a famosa guarda rubra nada pode fazer para deter a minha pequena atacante. Todos riam com o príncipe. Todos menos o capitão Gawdren. Ele sabia que aquela tinha sido realmente uma falha e logo os soldados que estavam de plantão seriam punidos. Um duende da floresta poderia se passar facilmente por uma criança. Com a diferença que os duendes da floresta possuem presas venenosas e costumam morder suas vítimas.
Contudo os soldados estavam embriagados com o vinho e a alegria do príncipe bêbado. Todos riram até que o príncipe de repente calou-se e pediu silêncio. Nos olhos da pequena Jasmine, lágrimas escorriam descontroladamente.
_O que te aflige minha pequena? Minhas canções e euforias te assustaram?
_ Não, “sinhô” príncipe. - Respondeu a pequena entre um soluço e outro.
– É meu irmão. A moça que estava ajudando na cozinha, aquela chata xingou ele e ele fugiu pra floresta. Isso foi de tarde e meu irmão não voltou mais.
Meu papai está triste, mas o resto das pessoas não querem ajudar a procurar meu irmão.
A garotinha narra o acontecido comovendo a maioria dos presentes com sua voz infantil e inocente.
_ Disseram que vão embora porque senão vão perder a festa do “sinhô”. Então, eu pensei comigo. Todo príncipe é bonito e tem bom coração, né? Bonito o “sinhô” é mas se o senhor tem um bom coração o senhor vai esperar eles procurarem meu irmão né? Por favor, meu “sinhô”.
Os soldados mais jovens se comoviam com seus olhares. Alguns enchiam o copo novamente com cerveja e vinho disfarçando um pigarro ou outro.
_ Não se preocupe minha pequena. Não só esperarei como também ajudarei a procurar seu irmão.
_Verdade?. O sinhô é bonito e de bom coração então. -Disse emocionada a pequena Jasmine enquanto beijava o rosto do príncipe.
_ Muito bem homens. Vamos procurar o irmão dessa garotinha. Bradou Gamblior levantando-se e colocando a jovem Jasmine no chão. -E preparem tochas. Quero uns vinte homens bons de rastreio na mata.
Ciclope e Gandry levantaram e foram buscar espadas em suas barracas. Outros se voluntariaram à medida que muitos se levantavam e corriam em busca de seus equipamentos.
O Capitão Gawdren não gostava da ideia do príncipe Gamblior adentrar a floresta ao redor à procura de um jovem perdido. Mesmo que ainda estivessem no início da jornada que adentrava a floresta Delrey que em seus primeiros quilômetros de mata era composta apenas por pinheiros e algumas árvores menores. Ainda assim, poderia ser uma aventura perigosa. Contudo ele sabia que quando o príncipe bebia ele jamais iria se dobrar a sua opinião. Ainda mais se tivesse sendo incentivado por soldados beberrões como “Pé de bigorna” e “Ciclope”.
Logo, o príncipe e mais vinte soldados de armaduras cintilantes e longas capas vermelhas chegavam ao acampamento do velho Malak e seus filhos. Dentre os soldados estava o capitão Gawdren que olhava para todos os cantos com olhar desconfiado. Montada junto com o príncipe Gamblior vinha Jasmine, a pequena filha do velho Malak, que estava com um sorriso de satisfação. Ao se aproximarem todos se curvaram em respeitosa cerimônia.
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