Os três cavalgaram por pelo menos duas horas sozinhos até conseguirem acompanhar a grande caravana de viajantes, comerciantes e cavaleiros andantes que seguiam o séquito real. Logo os barulhos de pessoas conversando e carruagens sendo puxadas por cavalos e búfalos de carga tornaram-se constante aos ouvidos.
Verbena demonstrava certa tristeza no olhar. Principalmente quando olhava para trás e avistava as montanhas onde crescera e onde havia deixado seu pai.
“_ Minha filha, vá com Andivari. Haverá uma grande festa em Stavianath e eu quero que você divirta-se. Não precisa passar sua mocidade cuidando de um velho moribundo. Meus dois aprendizes cuidarão bem de mim.“
E era verdade. Os aprendizes de Aroc já exerciam a profissão de ferreiro. Graças aos ensinamentos de Aroc eles sempre foram reconhecidos como excelentes ferreiros. Nunca deixaram de serem gratos a Aroc por seus ensinamentos e com os dias de Aroc findando, juraram cuidar do velho até que a morte lhe abraçasse. Sabiam que seriam dispensados assim que Verbena partisse pois assim era o desejo de Aroc. Mas prometeram a Verbena permanecerem por perto até o último suspiro do velho. Sim, todos sabiam que Aroc estava no fim.
_ Ele é a única família que tenho agora. Não devia tê-lo deixado. –Pensava a jovem de cabelos dourados.
Andivari observava a moça que escondia o corpo debaixo de um casaco de peles de urso. Seu rosto era rude e belo ao mesmo tempo. As sobrancelhas cerradas dava lhe um aspecto raivoso, mas os lábios vermelhos e bochechas róseas junto com o olhar esmeralda davam lhe fortes toques de feminilidade. Ela trazia a lâmina de seu pai junto à cintura presa por um cinto de couro. Atrás dela, com os cabelos loiros caindo até abaixo da nuca e a barba recém-feita, cavalgava Vladislav com o olhar perdido no horizonte.
_Dois sonhadores. –Pensava Andivari.
Ao entardecer, a caravana parou para descansarem e darem alimento aos viajantes. A guarda real do príncipe erguia uma parede de estacas para separar a comitiva do príncipe dos demais seguidores. Quem atravessasse a parede era severamente punido. Muitos viajantes ficavam olhando o príncipe e seus convidados que banqueteavam até tarde da noite na esperança de serem convidados para comerem junto com o príncipe.
Algumas crianças gritavam o nome de Gamblior hora lhe pedindo alimento, hora lhe implorando para serem escudeiros de algum cavaleiro famoso que estivesse em sua companhia. Também havia mulheres que gritavam seu nome. Porém seus gritos era como gemidos de amor e por vezes acompanhados de palavras sedutoras e de cunho erótico. Algumas deixavam os seios amostra. O que alegrava os soldados de guarda na parede de estacas.
Apesar de alguns viajantes ficarem assistindo as festividades do príncipe Gamblior de longe, muitos preferiam fazerem suas próprias festividades e beberem até se sentirem como se fossem príncipes e reis. Princesas e rainhas. Andivari pagou algumas moedas de prata para um ancião de cabelos grisalhos e olhos fundos no rosto e puderam juntarem se a ele e seus filhos e filhas que banqueteavam um pernil assado acompanhado com cerveja vinda da longínqua Cananor. Um dos filhos do senhor era um aspirante a bardo, mas tocava tão mal o seu alaúde e possuía uma voz fanhosa que fazia de suas melodias um verdadeiro motivo de risadas de todos do grupo. Foi com esses companheiros de viagem que os três passaram a noite comendo e bebendo até que o sono chegasse. Apesar de haverem vigias das caravanas, Vladislav e Andivari combinaram as horas que ficariam a postos de guarda. No dia seguinte Verbena indignou-se por ter sido deixada de fora da vigia e exigiu uma parte do turno para ela mesma manter-se de guarda.
Os dias transcorreram iguais. O ancião e seus familiares logo se afeiçoaram de Andivari e seus companheiros. Malak era seu nome. Havia criado uma pequena fortuna nas cidades de Hellins mas os constantes aumentos dos tributos o encorajaram a tentar a sorte em Stavianath. A viagem do príncipe era o momento perfeito para isso pois o caminho estaria sendo vigiado pela própria guarda real. Não só Malak como vários comerciantes estavam acompanhando o cortejo real.
O filho "bardo" de Malak apaixonou se por Verbena. Passava horas a fio tentando compor uma canção que agradasse a moça. Todavia a voz tediosa e os refrões nada criativos do rapaz apenas deixavam Verbena não só constrangida como enraivecida. O auge da ira de Verbena culminou quando ela estava preparando o desjejum juntamente com as irmãs do rapaz e outras mulheres do grupo e o rapaz apareceu com seu alaúde cantando o seu amor em alto e bom tom.
-Saia daqui! - Gritou Verbena lançando uma tigela na cabeça do rapaz. - Já estou cheia dessas músicas chorosas e sofríveis. Dane -se seu amor. Não o quero. Agora suma da minha frente.
O rapaz saiu assustado em direção oposta cabisbaixo e envergonhado com todos ao seu redor rindo e debochando dele. Durante o restante do dia ninguém mais viu o rapaz dar as caras. Foi ao cair da noite que Malak, o pai do rapaz, manifestou sua preocupação
_Já era pra ele ter voltado. -resmungava o velho. _ Ele nunca perde a refeição noturna. Estão todos aqui. Menos ele. E essas florestas ao redor são perigosas…
_ Não se preocupe. Eu vou procurá-lo pessoalmente. -Disse Andivari levantando do chão onde estava jogando cartas com Vladislav em um salto.
_Eu também irei. Logo irá escurecer e os olhos de Ievine não estão nos agraciando hoje. -Disse Vladislav se referindo às duas luas que em determinados períodos iluminavam os céus escuros. Uma possuía um brilho azulado e outra um brilho prateado mas nessa noite nenhuma delas iria aparecer no céu escuro.
_ Muito bem. Vamos reunir alguns homens para nos ajudar na busca. Verbena, prepare tochas para cada um de nós. Peça ajuda as outras moças.
Logo reuniram quinze bons homens dispostos a ajudarem. Andivari os dividiu em cinco grupos de três homens.
_ Vamos procurar pela mata. Então lembrem se de manterem as tochas acesas tanto para iluminar o caminho quanto para afastar possíveis predadores.
Andivari distribuía as tochas que Verbena e duas criadas trouxeram. O ambiente ficou iluminado por causa das tochas por algum tempo mas à medida que os homens foram caminhando mata adentro e os grupos se distanciaram uns dos outros o lugar voltou a ficar escuro e silencioso.
As outras caravanas já estavam distante o que fazia o farfalhar das folhas junto com as lamúrias do velho Malak se tornarem assustadoramente auditivos. Verbena se sentia culpada pela situação. Mesmo que ninguém dissesse nada ela sentia olhares condenadores dos familiares do rapaz. Ao longe na floresta os gritos dos homens chamando o rapaz ecoavam. Foi só nesse momento que o nome fixou na mente de Verbena. "_ Adriel". O nome ecoava na floresta e na cabeça de Verbena.
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