quarta-feira, 21 de junho de 2017

Dias de Dor.

Passaram se dias desde que Andivari e seus amigos chegaram ao acampamento dos Markdenos. Obadian Teron demonstrara ser um anfitrião agradável. Sempre enviava servos com alimentos frescos e bebidas saborosas dos mais variados tipos. Suas cobertas de dormir eram trocadas quase que todos os dias por cobertas limpas e quentes. Fizera uma tenda para Verbena e deixara um guarda de plantão dia e noite na entrada. Dizia que era para garantir a segurança dela.
“_. Um acampamento de guerra não é um lugar para uma dama. É meu dever garantir que nada de errado aconteça com você, minha querida.”
Verbena desconfiava de cada atitude cortês dos anfitriões. Principalmente quando ela conseguia conversar com alguns prisioneiros. Havia dois dias que ela saía pelos fundos da tenda e conversava com uma prisioneira chamada Khalieshy. O jovem Vladislav passava os dias treinando com a espada. Mesmo depois de ser advertido pelo curandeiro de que precisava fazer repouso. Já o pobre Andivari parecia definhar-se cada dia mais. Suas feridas inflamavam e a dor era constante em seu semblante. Verbena lamentava a todo o momento ver o amigo naquele estado. No fundo ela desconfiava do curandeiro. Achava que ele não sabia o que estava fazendo. Certa vez tentou ir procurar plantas medicinais por conta própria, mas não foi autorizada a deixar o acampamento porque as “Viúvas de Stavianath” estavam fazendo ataques pelas redondezas.
            Realmente os soldados estavam mais preocupados aquele dia. Rumores de que as “viúvas” atacariam antes das duas luas alinharem nos céus eram cada dia mais frequentes. Verbena ouvira algo sobre ainda precisarem de mais dois jovens para completarem a demanda. Não sabia do que se tratava, mas sua nova amiga, a prisioneira Khalieshy, havia lhe dito algo sobre precisarem de trinta jovens para trabalhos escravo nas florestas De Markden. O rei Keiran havia prometido construir uma nova frota de navios para os Hellins e os jovens stavianathos eram requisitados para cortarem madeira nos cantos mais ermos das florestas. Nos últimos tempos nem mesmos as jovens mulheres estavam sendo poupadas dos serviços braçais.
“_. Vimos o que essas infelizes são capazes de fazer com o arco e a espada. Se elas são aptas para lutar, também serão aptas para trabalhar.” - Disse um comandante ao ser questionado por Vladislav.
            Naquela noite Andivari agonizava de dor. Seus gritos eram ouvidos por todo o acampamento. Vladislav permanecia na porta da tenda parado e com um olhar tristonho. No fundo ele sentia medo. Sempre achara que a morte o perseguia, mas vê-la perseguir a atacar um amigo parecia aterrorizá-lo mais do que se fosse ele mesmo a sentir tal sofrimento. Verbena tentava auxiliar o curandeiro de todas as formas. Passava unguentos nas feridas, um pano úmido no rosto suado de Andivari o segurava no leito quando ele tinha ataques de espasmos. 


            _. Faça algo homem. Ele está só piorando. -Implorava Verbena.
_. Estou fazendo o melhor que posso minha jovem. Mas ele parece rejeitar meus unguentos. -Reclamava o curandeiro.
_. Pelo visto o seu melhor não vale nada para esse homem. -Disse Obadian ao entrar na tenda segurando uma garrava de vinho já pela metade nas mãos. _Saia já daqui. E chame dois homens com uma maca. Peça para prepararem minha carruagem.
_. Sim senhor! -Respondeu o curandeiro saindo aos tropeços ao ser empurrado.
_. Minha jovem. -Disse suavemente, ainda que um pouco bêbado, Obadian Teron a Verbena. _. Nosso amigo já ficou aqui tempo demais. Perdoe-me por não ter tomado essa decisão antes, mas ele deve ser enviado o quanto antes ao palácio real. Em Anarkden ele receberá os devidos cuidados. Acredite. É a única chance dele.
            _. Então iremos com ele. -Disse Vladislav ao ouvir a conversa.
_. Não se faz necessário. Meus melhores homens o escoltarão até o palácio.
_. Isto não foi um pedido meu caro. -Disse Vladislav com um tom sinistro na voz.
_Sim. Não vamos nos separar de nosso amigo por nada. -Completou Verbena.
_. Como queiram. Mas apressem-se em pegarem seus pertences. A carruagem irá sair em breve.


                                                                                                                ...Continua!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O Pacto

Andivari acordou após dormir dois dias seguidos. Sua cabeça estava enfaixada e o seu olho ferido estava coberto pelas faixas o deixando com uma visão monocular. Seu peito doía e seu braço estava dormente. No seu ombro, uma dor fincava o fazendo relembrar do golpe sofrido na luta contra homens de Stavianath. Ele havia sido salvo e tratado, mas não lembrava de seus salvadores. Se deu conta que no momento da batalha estava acompanhado por Verbena e Vladislav. Levantou-se assustado buscando encontrar algum dos dois ao seu redor, mas uma forte dor na sua cabeça o fez deitar se novamente. Com a mão na cabeça tentando amenizar a dor o vulto em sua mente o fez olhar para o lado. Lá estava um homem calvo de rosto severo. Olhos verdes e profundos estudavam Andivari.
_Boa tarde cavaleiro! Finalmente acordaste. Temos muito o que conversar. Sou o general Obadian Teron. Eu e meus homens...
_. Onde estão meus amigos? -Interrompeu Andivari. _. Um jovem corpulento e uma jovem donzela. Ambos estavam comigo.
_. Não se preocupe. -Falou Teron com um olhar impaciente por ter sido interrompido. Eles estão bem. Eu garanto. Em breve vocês se encontrarão. Mas vamos falar de você. Seus ferimentos são graves. É um milagre ter aguentado até agora.
_. Não compreendo? Não me sinto tão mal assim. -Questionou Andivari.
_. Isso porque você tem sido tratado pelo meu curandeiro particular. Ele possui vasto conhecimento em medicinas alternativas. Mas esse bem-estar é passageiro. Você provavelmente perderá a visão do olho ferido e os movimentos de um braço. Seus dias de guerreiro chegaram ao vim. Justo agora que eu contava com sua ajuda nessa guerra sofrida.
_O que te faz pensar que eu tomaria parte de algum lado dessa guerra sem sentido? E que diferença faria um guerreiro a mais em seu exército. 
_. Não me tenha por um tolo Andivari. Todos os soldados te conhecem. As histórias sobre a batalha das “Areias profundas” ainda encorajam jovens a se alistarem em vários exércitos. Mas, não estou aqui para falar de seu passado. Estou aqui para falar de agora. De como você pode me ajudar a pôr um fim nessa guerra. Ainda há alguns rebeldes do povo de Stavianath oferecendo resistência. Mesmo sem nenhuma chance de vencerem. Isto só tem causado perdas desnecessárias de vidas.
_. Os seus exércitos não pareciam estarem preocupados com perdas de vidas quando atacaram de forma cruel os civis das cidades de Stavianath. Eu estava na capital general. Vi com meus próprios olhos a crueldade e covardia de seus homens. E agora que os guerreiros de Stavianath começam a oferecerem resistência você quer que eu o ajude a pacificar a situação? Acho improvável.
_. Você parece levar em grande consideração o povo de Stavianath não é mesmo? Não se esqueça que eram homens de Stavianath que atacaram você e seu amigo e quase estupraram a jovem que os acompanhava. Qual é mesmo o nome dela? Verbena, certo? -Falou Obadian com um tom de sarcasmo na voz. Minha intenção é evitar mortes desnecessárias. Os rebeldes não me ouvirão, mas, se você falar com seus líderes pessoalmente, talvez possa convencê-los a se renderem. Em troca eu providenciaria liberdade para você e seus amigos. Além de pedir ao meu curandeiro para se empenhar em sua total restauração.
_. Irei pensar. -Disse Andivari. Você mesmo disse que meus ferimentos são graves demais para que eu possa recuperar-me totalmente. E o que aconteceria com os soldados de Stavianath que se rendessem?
_. Ora homem, não há muito o que pensar. -Indignou-se Obadian Teron. – Pensa em sua amiga. No seu pupilo e em você mesmo. Os soldados de Stavianath receberam julgamentos justos. A maioria ganhará a liberdade dentro de alguns anos. O próprio rei me garantiu isto. Faça o que é certo. Salve vidas. Salve a sua própria vida.
Andivari percebia o tom de voz de Obadian Teron. Se ele não cooperasse provavelmente ele nunca sairia daquela cama. E Vladislav e Verbena provavelmente também seriam punidos. “-devo pensar no bem de todos os envolvidos”.
_. Tudo bem! -Disse Andivari por fim. _eu irei ao acampamento dos rebeldes e conversarei com eles. Desde que você me dê sua palavra de que eles não serão feridos caso se rendam.


_. Você tem minha palavra. Escolheste bem Andivari. Escolheste com sabedoria. Vou enviar meu curandeiro com instruções de fazer tudo o possível para recuperá-lo.
Obadian Teron saiu da tenda dando passos largos e um sorriso de satisfação no rosto deixando para trás um Andivari pensativo.
Logo após sua saída Vladislav e Verbena foram escoltados até a tenda onde Andivari estava. Os três amigos passaram um bom tempo conversando.
Ao passar por um ferreiro que martelava incessantemente uma barra de ferro, Obadian Teron foi surpreendido por uma voz a chama-lo.
_General? Aqui.
Ao olhar ao redor viu que um homem observava as espadas trabalhadas pelo ferreiro que parecia não os perceber.
_. Quem me chama? Oh, Lecain? Aqui?
_. Como foi a conversa com nosso guerreiro. -Quis saber Lecain ignorando o espanto do general.
_. Ocorreu tudo nos conformes. Andivari irá conversar com os rebeldes.
_Ótimo! Cuide para que os ferimentos dele piorem e que ele tenha que ser levado até minha presença. Estarei no palácio real em Anarkden.
_. Sim, senhor. Meu curandeiro tem providenciado isto.

Lecain deixou a espada que manuseava no lugar e saiu dando um rodopio em direção as tendas dos soldados. Obadian Teron ficou o observando sumir por entre as tendas enquanto que o ferreiro martelava e martelava.