Fabiano Enoque.
A Máscara Invicta
I Parte.
Por Eduardo Motta.
Um lampejo
corta o céu. Era dia, mas se fazia visível ao olhar. Do sul, aonde outrora
vieram miríades de longos anos de guerra, ouvia se um grande ruído. Não de
homens, mas de uma tempestade que se avizinhava das redondezas.
Ao longe, o velho dragão olhava feroz. Seus pétreos olhos
pareciam vigiar toda a paisagem, porem, é certo, nada viam. As sólidas asas
como que tentando ganhar o céu, nada poderia fazer. Não se ergueria m um
momento sequer apenas. Reza a lenda que numa época muito distante, vivia um
dragão sobre as montanhas de Delráhvia. Só que um dia. Um poderoso bruxo o
havia confinado na rocha e ali permaneceria por toda eternidade a velar sobre a
paisagem. Mas os anos se passam e os velhos morrem e as crianças abandonam seus
sonhos na medida em que crescem e não há mais quem conte as estórias e nenhum
ouvido para ouvi-las então e as lendas vão ficando cada vez mais distantes dos
homens.
“Tudo nunca passou de
um sonho!”. Disse uma voz de si para si mesmo. E acima, uma bandeira pendia
dum azul desbotado pelo tempo. Outrora, símbolo de dignidade e poder, hoje
arrancavam risos dissimulados e nada mais. O dragão dourado ao centro já não
impunha respeito nem nas criancinhas de pouca idade.
_Jovem mestre. Chamou uma voz perto a grande escadaria, único
meio de si chegar à torre de vigia. _Teu pai, o duque, o aguarda.
O jovem não volveu o olhar em direção àquela voz. Porem foi
audível o seu longo suspiro.
_Diga a ele que já vou. Disse mantendo o olhar fixo no velho
pendão agitado pelo vento.
_Não quero ser inconveniente... _Tornou a voz._... Mas ele
pede que me acompanhe imediatamente.
_Que seja! Exclamou displicentemente enquanto lançava um
olhar frio para o velho homem junto à escada.
O jovem seguiu em silencio escada abaixo acompanhado pelo
homem mais velho. Era uma enorme espiral. Parecida com uma enorme serpente
enroscada pelas laterais da torre. Depois de terminada a monótona descida, os
dois entraram num enorme pátio e em seguida em uma porta a esquerda saindo num,
salão mediano aonde um grupo se reunia cheio de excitação nas vozes.
“_ Sei que parecem
estórias de camponês senhor...” _ Disse um homem ao fundo da sala enquanto Dárien
e o velho Makro entravam. “_... mas dois
pastores e alguns animais já desapareceram. Achamos também sangue próximo ao
velho poço.”
“_Uma fera senhor! Uma
terrível fera bradou uma mulher”. “_Já ouvimos falar dela. Dizem que dizimou
todo um povoado e agora está aqui entre nós.”
Havia muita tensão no ar. Várias pessoas falavam ao mesmo
tempo enquanto o duque de cima do trono olhava desolado aquele burburinho a sua
frente.
_
Senhor meu pai, disse Dárien, mandaste chamar-me? Algo em que possa
servi-lo?
A
despeito de toda a formalidade, o duque notara certo descontentamento na voz de
Darién, mas também mantendo o tom formal: _Sim, meu filho. Estes homens trazem
notícias de que uma fera estaria atacando nossa boa gente. Como hábil caçador
que és, gostaria de ouvir sua opinião sobre o caso.
_
O que os soldados dizem meu pai?
_
Lobos meu senhor! Disse um homem usando com uma cota de malha que trazia uma
longa espada à cintura. _ Nada mais que lobos. E ademais, os dois pastores não
passavam de bêbados, e isto não é segredo a ninguém.
Se
por um lado as pessoas simples viam no caso o ataque de uma terrível besta, que
contavam boatos sobre vilas destruídas e coisas parecidas, o duque via apenas
estórias de gente ignorante que tende a exagerar tudo e se deixam levar
facilmente pelo maravilhoso.
_E
então Dárien, o que me diz?
_
Bem meu pai, lobos ou algum outro animal é certo que não se sabe. Mas seria
prudente investigar. Se o senhor me concedesse a honra...
O
duque não tencionou mandar ninguém para averiguar o caso. Principalmente seu
filho, mas se negasse o pedido, ainda mais na frente daqueles que ali estavam,
poderia ter menos apoio quando fosse preciso e assim aquiesceu.
Foi
acordado que Dárien levaria três homens consigo e partiriam pela manhã a fim de
averiguar os fatos. E assim, na quarta hora do período de Fabus, aos primeiros
raios de Álax, partiram pela velha estrada, rumo ao sul. Ao longe o antigo dragão
se fazia ver magnífico enquanto a velha bandeira azul era agitada por um
impetuoso vento norte.
Dárien
lembraria muitas vezes daquela cena, mormente nos tempos em que a escuridão
tivesse apoderado de seu ser e tudo o que houvesse vivido fosse como um sonho
desvanecendo dentro da realidade, porém os presságios são apenas para o futuro
e o futuro ainda estava longe, ao menos daquele dia.
Doidimais cara!
ResponderExcluir