A Máscara Invicta
II Parte.
Por Eduardo Motta.
O
vento norte soprava suavemente. Em algumas épocas ele era um vento frio e
veemente, mas, hoje não. Ele era calmo e reconfortante. Para alguém após uma
longa caminhada ele seria neste momento como um eflúvio bem fazejo. Uma trégua
ao calor que grossa em outras terras. Mas não. Não era paz que ele trazia.
Havia um cheiro metálico e uma tristeza no ar. Era uma lufada lenta e pesada
que oprimia toda a paisagem. Sobre o solo, corpos espalhados de homens,
mulheres e crianças. Todos mortos.
_Chegamos tarde. Falou uma voz feminina.
_Ao que parece, sim. Concluiu uma segunda enquanto cobria com
um manto o corpo de um jovem que jazia no chão.
_ A cada tempo ele se torna mais violento. Disse a primeira
enquanto cobria a seu turno, o corpo mutilado de uma mulher._A visão já não é
tão boa quanto antes. Continuou ela.
_Não devia se cansar tanto assim, minha irmã. Disse a outra
enquanto verificava a respiração de um soldado, puxando-o para o seu colo. _Ele
ainda vive! Exclamou ao mesmo tempo em que lhe dava algo para beber.
Ária se aproximou. Já não tinha os cabelos dourados como a
irmã ajoelhada à frente. A pele havia perdido o rosado da juventude. Da antiga
semelhança entre as duas nada restava.
Lorena levantou o olhar com a aproximação da irmã. Era triste
vê-la andar com dificuldade. Havia envelhecido muito. Isso era o que mais doía
nela. Mas, assim tinha de ser o preço da magia, o risco já havia sido calculado
e cada uma aceitara sua parte. O que restava era seu forte, mesmo quando a
força se escondia bem no fundo do coração da mulher, tão fundo que parecia não
vir à tona nessa vida nunca mais.
Ária sabia que aquele homem ali não sobreviveria a menos que
fosse ajudado. Porem, como poderia? Se o curasse, talvez não pudesse dar um
passo apenas e já se atrasaram por demais devido ao estado em que se
encontrava. A cada dia perdido mais pessoas morreriam sem ter a mínima chance.
Ela afastou se até sair do campo de visão da irmã e ali caiu num choro
silencioso, porem doído. Já tinha passado por cinco vilarejos e em todos apenas
a morte restava e sabia que muito em breve ela também faria parte da legião dos
mortos.
E foi com tristeza que o resto daquele dia e o seguinte
passaram. E as duas irmãs seguiram rumo ao norte. E com elas ia o pequeno Ban,
que havia se escondido no dia anterior. Ária sabia o que os esperava mais
guardou em seu coração. Sabia que o sofrimento era inevitável, mas ninguém
precisava sofrer antes do tempo.
...Continua...!