Andivari acordou após dormir dois dias
seguidos. Sua cabeça estava enfaixada e o seu olho ferido estava coberto pelas
faixas o deixando com uma visão monocular. Seu peito doía e seu braço estava
dormente. No seu ombro, uma dor fincava o fazendo relembrar do golpe sofrido na
luta contra homens de Stavianath. Ele havia sido salvo e tratado, mas não
lembrava de seus salvadores. Se deu conta que no momento da batalha estava
acompanhado por Verbena e Vladislav. Levantou-se assustado buscando encontrar
algum dos dois ao seu redor, mas uma forte dor na sua cabeça o fez deitar se
novamente. Com a mão na cabeça tentando amenizar a dor o vulto em sua mente o
fez olhar para o lado. Lá estava um homem calvo de rosto severo. Olhos verdes e
profundos estudavam Andivari.
_Boa tarde cavaleiro! Finalmente
acordaste. Temos muito o que conversar. Sou o general Obadian Teron. Eu e meus
homens...
_. Onde estão meus amigos? -Interrompeu
Andivari. _. Um jovem corpulento e uma jovem donzela. Ambos estavam comigo.
_. Não se preocupe. -Falou Teron com um
olhar impaciente por ter sido interrompido. Eles estão bem. Eu garanto. Em
breve vocês se encontrarão. Mas vamos falar de você. Seus ferimentos são
graves. É um milagre ter aguentado até agora.
_. Não compreendo? Não me sinto tão mal
assim. -Questionou Andivari.
_. Isso porque você tem sido tratado
pelo meu curandeiro particular. Ele possui vasto conhecimento em medicinas
alternativas. Mas esse bem-estar é passageiro. Você provavelmente perderá a
visão do olho ferido e os movimentos de um braço. Seus dias de guerreiro
chegaram ao vim. Justo agora que eu contava com sua ajuda nessa guerra sofrida.
_O que te faz pensar que eu tomaria
parte de algum lado dessa guerra sem sentido? E que diferença faria um guerreiro
a mais em seu exército.
_. Não me tenha por um tolo Andivari.
Todos os soldados te conhecem. As histórias sobre a batalha das “Areias
profundas” ainda encorajam jovens a se alistarem em vários exércitos. Mas, não
estou aqui para falar de seu passado. Estou aqui para falar de agora. De como
você pode me ajudar a pôr um fim nessa guerra. Ainda há alguns rebeldes do povo
de Stavianath oferecendo resistência. Mesmo sem nenhuma chance de vencerem.
Isto só tem causado perdas desnecessárias de vidas.
_. Os seus exércitos não pareciam
estarem preocupados com perdas de vidas quando atacaram de forma cruel os civis
das cidades de Stavianath. Eu estava na capital general. Vi com meus próprios
olhos a crueldade e covardia de seus homens. E agora que os guerreiros de
Stavianath começam a oferecerem resistência você quer que eu o ajude a
pacificar a situação? Acho improvável.
_. Você parece levar em grande
consideração o povo de Stavianath não é mesmo? Não se esqueça que eram homens
de Stavianath que atacaram você e seu amigo e quase estupraram a jovem que os
acompanhava. Qual é mesmo o nome dela? Verbena, certo? -Falou Obadian com um
tom de sarcasmo na voz. Minha intenção é evitar mortes desnecessárias. Os
rebeldes não me ouvirão, mas, se você falar com seus líderes pessoalmente,
talvez possa convencê-los a se renderem. Em troca eu providenciaria liberdade
para você e seus amigos. Além de pedir ao meu curandeiro para se empenhar em
sua total restauração.
_. Irei pensar. -Disse Andivari. Você
mesmo disse que meus ferimentos são graves demais para que eu possa
recuperar-me totalmente. E o que aconteceria com os soldados de Stavianath que
se rendessem?
_. Ora homem, não há muito o que pensar.
-Indignou-se Obadian Teron. – Pensa em sua amiga. No seu pupilo e em você
mesmo. Os soldados de Stavianath receberam julgamentos justos. A maioria
ganhará a liberdade dentro de alguns anos. O próprio rei me garantiu isto. Faça
o que é certo. Salve vidas. Salve a sua própria vida.
Andivari percebia o tom de voz de
Obadian Teron. Se ele não cooperasse provavelmente ele nunca sairia daquela
cama. E Vladislav e Verbena provavelmente também seriam punidos. “-devo pensar
no bem de todos os envolvidos”.
_. Tudo bem! -Disse Andivari por fim.
_eu irei ao acampamento dos rebeldes e conversarei com eles. Desde que você me
dê sua palavra de que eles não serão feridos caso se rendam.
_. Você tem minha palavra. Escolheste
bem Andivari. Escolheste com sabedoria. Vou enviar meu curandeiro com instruções
de fazer tudo o possível para recuperá-lo.
Obadian Teron saiu da tenda dando passos
largos e um sorriso de satisfação no rosto deixando para trás um Andivari
pensativo.
Logo após sua saída Vladislav e Verbena
foram escoltados até a tenda onde Andivari estava. Os três amigos passaram um
bom tempo conversando.
Ao passar por um ferreiro que martelava
incessantemente uma barra de ferro, Obadian Teron foi surpreendido por uma voz
a chama-lo.
_General? Aqui.
Ao olhar ao redor viu que um homem
observava as espadas trabalhadas pelo ferreiro que parecia não os perceber.
_. Quem me chama? Oh, Lecain? Aqui?
_. Como foi a conversa com nosso
guerreiro. -Quis saber Lecain ignorando o espanto do general.
_. Ocorreu tudo nos conformes. Andivari
irá conversar com os rebeldes.
_Ótimo! Cuide para que os ferimentos
dele piorem e que ele tenha que ser levado até minha presença. Estarei no
palácio real em Anarkden.
_. Sim, senhor. Meu curandeiro tem
providenciado isto.
Lecain deixou a espada que manuseava no
lugar e saiu dando um rodopio em direção as tendas dos soldados. Obadian Teron
ficou o observando sumir por entre as tendas enquanto que o ferreiro martelava
e martelava.