Todos estavam ansiosos, no salão de
prata, câmara que antecede o salão vermelho. Local de reunião em épocas de
conflito. Aguardavam pela chegada do rei. Os salões de Hellin-Odel são
majestosos por sua grandeza e brilho. Com belos ornamentos feitos com “o metal
que brilha”, jamais ficam totalmente escuros, nem mesmo durante a noite. Mas
naquele dia, uma sombra pairava sobre o salão.
O
rei entrou no salão empurrando as duas portas com as mãos violentamente. Seus
cabelos longos e sua capa rubra esvoaçavam pelo ar que entrava pelas imensas
janelas do recinto. Os dezoito homens levantaram de suas cadeiras e olharam
diretamente nos olhos do rei que revidou o olhar encarando os, um a um com um
olhar zangado, mas respeitoso. Quando passou por todos eles finalmente disse
asperamente:
_Cavalheiros, ao salão vermelho.
Temos muito que conversar. O rei adentrou o salão sendo seguido pelos homens.
O
salão vermelho estava escuro e empoeirado. Ao contrário dos outros ambientes,
naquele salão não haviam ornamentos enfeitados, quadros, porcelanas nem jarros
de vinho ou hidromel. Era apenas um grande salão mal iluminado e vazio. No meio
do salão ficava um fosso de quinze metros de raio no qual todos os generais,
juntamente com o rei, ficavam posicionados em pé ao redor. Não havia mesa para
colocarem artefatos representativos de suas tropas ou das tropas inimigas. Nem
papel ou pena para escreverem suas estratégias. Todos os planos eram
mentalmente visto pelo grupo. Os generais de guerra tinham que conhecer muito
bem o ambiente ao redor do reino, pois o que um falava tinha que ser visto
mentalmente por todos. Também tinham que serem resistentes, pois ficavam horas
a fio na beirada do fosso, que por sinal era extremamente fundo. Era nesse
fosso que desde os tempos remotos os reis de Hellin-Odel lançam as cabeças de
seus inimigos. E por isso, é comum subir um cheiro desagradável do fosso.
Quando um general novato fica na presença do fosso pela primeira vez, e
questiona o porquê do mau cheiro, o rei responde: “_Acostume-se. Pois esse é o
cheiro da guerra.”
_Bem...
Começou o rei. _Conte-nos exatamente o ocorrido Gawdren.
_Sim
meu rei. Respondeu o capitão da guarda do filho do rei, que demonstrava
vergonha no olhar e dores no corpo, que estava enfaixado em várias partes.
_Chegamos a
Stavianath na manhã do nono dia de Ectomer, fomos bem recebidos e participamos
dos festejos da festa de aniversário da filha de Cronder, o bravo. Todas as
comemorações e festividades transcorreram bem. Era bem sabido por todos que seu
amado filho Glanbior esperava por uma resposta positiva de Kathrina, a bela
filha de Cronder, mas seu filho se comportou como um homem honrado quando ela
escolheu ficar com, Durkan, principe de Cananor. Permanecemos em todas as
comemorações. Até o último dia e eu em momento algum perdi seu filho de vista.
Ele não cometeu nenhuma barbaridade.
Príncipe Gamblior |
_Claro
que não._comentou Urizeh dos mais velhos entre os dezesseis generais ao redor
do fosso._Conheço o príncipe Glambior desde que ele era pequeno. Sempre foi um
garoto ajuizado.
_Continue
homem. Não pare tua narrativa.
_Sim
meu rei. Estávamos retornando para casa, as portas do caminho que adentra a
floresta obscura, quando avistamos Crane, Cron e Adrien, os irmãos de Kathrina,
juntamente com Durkan. Eles vinham a galopes desesperados em suas montarias.
Sem entendermos nada paramos a caravana. Foi quando vimos que logo atrás deles havia
um grupo de trezentos fortes guerreiros armados para combate. Em primeira
instância, acreditamos que eles estavam sendo perseguidos. Foi quando percebemos
que eles estavam era liderando o grupo. Fomos atacados ferozmente, meu lorde. Éramos
apenas cinqüenta homens... _ Nesse momento Gawdren fez uma pausa e uma lágrima
visivelmente escorria de seus olhos. Com um suspiro fundo ele retornou a sua
narrativa.
_Dei
voz de comando aos homens para se posicionarem na defensiva do principe, mas
antes mesmo de posicionarmos, o príncipe Glambior tomou a dianteira na frente
de batalha e muitos foram os que tombaram em presença da “trovoada”.
Lutamos
muito. E lutamos bem, mas, eles eram numerosos. Um a um tombamos. Os machados
dos irmãos caíram sobre nossas cabeças, mas nossas lâminas montantes também
destroçaram muitos corpos. Durkan, de cananor estava com uma ira demoníaca nos
olhos esbugalhados e vermelhos. Com aquelas correntes de lâminas na ponta, ele
matou muito de nossos irmãos. Restaram apenas o príncipe e eu. Um de costas
para o outro, em posição de combate permanecemos. Ofegantes. Foi quando
começaram as acusações. _ “Assassino”, gritavam os homens de stavianath. Ao
indagar aos irmãos de Kathrina o que estava acontecendo e o porquê do ataque,
Durkan, o cananor, ficou louco. Teve até que ser contido por seus homens.
“_O que está acontecendo???” _Gritava
Durkan. “_Seu maldito. Eu amava aquela mulher. E você a matou. Assassino.”
Tanto eu quanto o príncipe, ficamos
atônitos diante das acusações.
“_Do que está falando homem?”
Perguntou o príncipe.
“_Não venha negar seus feitos
diante da morte canalha. Eu vi com meus próprios olhos. Você a matou. Matou a
bela Kathrina.
_Nesse momento todos entristeceram
ao nosso redor. Foi quando Crane filho mais velho de Cronder, pronunciou a sentença:
“_Glambior, filho de Fandron, príncipe de Hellin-Odel, você será condenado à morte e decapitado em praça
pública. O povo de stavianath cuspirá em seu rosto antes do seu último suspiro
de vida.”
“_Não nos entregaremos sem lutar
porcos.” _gritei. Foi quando o príncipe disse: _Pare amigo, eu me entrego. “Só
peço que vocês deixem meu companheiro partir em paz.” E me segurando no ombro sussurrou
aos meus ouvidos “_Você deve relatar ao meu pai o ocorrido”.
“_Que assim seja” _ Falou Crane.
“_Mas que tu saibas que ele será liberado apenas para levar um aviso a teu
pai... O povo de Stavianath atacará seu reino. Conquistará tua riqueza e matará
suas filhas, pois nem a sim aplacaremos a dor da perda de nossa irmã, a filha
de Stavianath.”
_ e foi assim que cheguei aos portões
do reino, quase morto._Concluiu Gawdren em um lamento.
_Obviamente
vocês foram vitimas de um plano hediondo para começarem uma guerra conosco.
Comentou um general.
_Não
teriam os próprios Stavianathos forjado essa tragédia para nos atacarmos.
Comentou outro.
_Não
creio. Afirmou o rei. Mas seja qual for o desfecho dessa trama, temos que nos
preparar para guerra.
_Nossos
homens protegem fortemente todos os caminhos pelas cordilheiras, meu rei.
_Não
creio que nos atacaram pelas cordilheiras. Eles teriam que atravessar a
floresta e eles sabem que nossas proteções pelos caminhos das cordilheiras são
impenetráveis. Eles virão pelo mar. Darão uma longa volta para nos atacar vindo
com o auxílio das frotas marítimas de cananor.
_Cananor
é do outro lado do continente meu rei. Demorarão muito até chegarem aqui.
_Exato.
Mas os Stavianathos querem vingança. Pretendem fazerem uma desonrosa chacina. E
para isso eles esperarão pelos aliados. O que é a nosso favor pois assim
poderemos nos prepararmos. Richon, como está nossa frota marítima?
_Excelentes
meu rei. Se eles vierem pelo mar nós os despacharemos para boca de Bël.
_Ótimo!
Drovan, envie alguns dos seus melhores homens a Stavianath. Temos que nos
manter um passo a frente dos movimentos deles. Se eles querem guerra, daremos a
eles uma guerra. Estão dispensados.
“_Por Fandron, por Hellin-Odel!” Gritaram todos.
_ Urizeh, fique um momento. Pediu o
rei.
_Sim, meu rei.
_Você é o mais velho entre nós,
sabe como se sente um pai ante a inevitável morte de um filho. O que devo
fazer?? Perguntava o rei choroso ao velho quando todos saíram.
_Não demonstre fraqueza meu rei.
Seja forte e descubra o que realmente está acontecendo. Não será que alguém se
passou pelo príncipe para incriminá-lo? Mas o príncipe se destaca em porte e
beleza. Ninguém poderia se passar por ele... a não ser...
_Apenas abrace um pai que teme
pela vida de seu filho meu velho amigo. Pediu o rei tristonho.
_Claro meu rei. O velho homem
abraçou seu rei fraternamente. Como um pai que abraça o filho. O velho homem
jamais entendeu a dor aguda em seu abdome. Nem o olhar frio e fixo do rei
enquanto ele mesmo caía abraçando a eterna escuridão do fosso.
_Adeus velho amigo, você cumpriu
seu destino satisfatoriamente. Disse o rei dando as costas para a escuridão do
fosso.
Cadê a continuação?
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