sexta-feira, 28 de março de 2014

NA BEIRA DO FOSSO.

Todos estavam ansiosos, no salão de prata, câmara que antecede o salão vermelho. Local de reunião em épocas de conflito. Aguardavam pela chegada do rei. Os salões de Hellin-Odel são majestosos por sua grandeza e brilho. Com belos ornamentos feitos com “o metal que brilha”, jamais ficam totalmente escuros, nem mesmo durante a noite. Mas naquele dia, uma sombra pairava sobre o salão.
          O rei entrou no salão empurrando as duas portas com as mãos violentamente. Seus cabelos longos e sua capa rubra esvoaçavam pelo ar que entrava pelas imensas janelas do recinto. Os dezoito homens levantaram de suas cadeiras e olharam diretamente nos olhos do rei que revidou o olhar encarando os, um a um com um olhar zangado, mas respeitoso. Quando passou por todos eles finalmente disse asperamente:
_Cavalheiros, ao salão vermelho. Temos muito que conversar. O rei adentrou o salão sendo seguido pelos homens.
          O salão vermelho estava escuro e empoeirado. Ao contrário dos outros ambientes, naquele salão não haviam ornamentos enfeitados, quadros, porcelanas nem jarros de vinho ou hidromel. Era apenas um grande salão mal iluminado e vazio. No meio do salão ficava um fosso de quinze metros de raio no qual todos os generais, juntamente com o rei, ficavam posicionados em pé ao redor. Não havia mesa para colocarem artefatos representativos de suas tropas ou das tropas inimigas. Nem papel ou pena para escreverem suas estratégias. Todos os planos eram mentalmente visto pelo grupo. Os generais de guerra tinham que conhecer muito bem o ambiente ao redor do reino, pois o que um falava tinha que ser visto mentalmente por todos. Também tinham que serem resistentes, pois ficavam horas a fio na beirada do fosso, que por sinal era extremamente fundo. Era nesse fosso que desde os tempos remotos os reis de Hellin-Odel lançam as cabeças de seus inimigos. E por isso, é comum subir um cheiro desagradável do fosso. Quando um general novato fica na presença do fosso pela primeira vez, e questiona o porquê do mau cheiro, o rei responde: “_Acostume-se. Pois esse é o cheiro da guerra.”
          _Bem... Começou o rei. _Conte-nos exatamente o ocorrido Gawdren.
          _Sim meu rei. Respondeu o capitão da guarda do filho do rei, que demonstrava vergonha no olhar e dores no corpo, que estava enfaixado em várias partes.
_Chegamos a Stavianath na manhã do nono dia de Ectomer, fomos bem recebidos e participamos dos festejos da festa de aniversário da filha de Cronder, o bravo. Todas as comemorações e festividades transcorreram bem. Era bem sabido por todos que seu amado filho Glanbior esperava por uma resposta positiva de Kathrina, a bela filha de Cronder, mas seu filho se comportou como um homem honrado quando ela escolheu ficar com, Durkan, principe de Cananor. Permanecemos em todas as comemorações. Até o último dia e eu em momento algum perdi seu filho de vista. Ele não cometeu nenhuma barbaridade.
Príncipe Gamblior



          _Claro que não._comentou Urizeh dos mais velhos entre os dezesseis generais ao redor do fosso._Conheço o príncipe Glambior desde que ele era pequeno. Sempre foi um garoto ajuizado.
          _Continue homem. Não pare tua narrativa.
          _Sim meu rei. Estávamos retornando para casa, as portas do caminho que adentra a floresta obscura, quando avistamos Crane, Cron e Adrien, os irmãos de Kathrina, juntamente com Durkan. Eles vinham a galopes desesperados em suas montarias. Sem entendermos nada paramos a caravana. Foi quando vimos que logo atrás deles havia um grupo de trezentos fortes guerreiros armados para combate. Em primeira instância, acreditamos que eles estavam sendo perseguidos. Foi quando percebemos que eles estavam era liderando o grupo. Fomos atacados ferozmente, meu lorde. Éramos apenas cinqüenta homens... _ Nesse momento Gawdren fez uma pausa e uma lágrima visivelmente escorria de seus olhos. Com um suspiro fundo ele retornou a sua narrativa.
          _Dei voz de comando aos homens para se posicionarem na defensiva do principe, mas antes mesmo de posicionarmos, o príncipe Glambior tomou a dianteira na frente de batalha e muitos foram os que tombaram em presença da “trovoada”.  
          Lutamos muito. E lutamos bem, mas, eles eram numerosos. Um a um tombamos. Os machados dos irmãos caíram sobre nossas cabeças, mas nossas lâminas montantes também destroçaram muitos corpos. Durkan, de cananor estava com uma ira demoníaca nos olhos esbugalhados e vermelhos. Com aquelas correntes de lâminas na ponta, ele matou muito de nossos irmãos. Restaram apenas o príncipe e eu. Um de costas para o outro, em posição de combate permanecemos. Ofegantes. Foi quando começaram as acusações. _ “Assassino”, gritavam os homens de stavianath. Ao indagar aos irmãos de Kathrina o que estava acontecendo e o porquê do ataque, Durkan, o cananor, ficou louco. Teve até que ser contido por seus homens.
“_O que está acontecendo???” _Gritava Durkan. “_Seu maldito. Eu amava aquela mulher. E você a matou. Assassino.”
Tanto eu quanto o príncipe, ficamos atônitos diante das acusações.
“_Do que está falando homem?” Perguntou o príncipe.
“_Não venha negar seus feitos diante da morte canalha. Eu vi com meus próprios olhos. Você a matou. Matou a bela Kathrina.
_Nesse momento todos entristeceram ao nosso redor. Foi quando Crane filho mais velho de Cronder, pronunciou a sentença:
“_Glambior, filho de Fandron, príncipe de Hellin-Odel, você será condenado à morte e decapitado em praça pública. O povo de stavianath cuspirá em seu rosto antes do seu último suspiro de vida.”
“_Não nos entregaremos sem lutar porcos.” _gritei. Foi quando o príncipe disse: _Pare amigo, eu me entrego. “Só peço que vocês deixem meu companheiro partir em paz.” E me segurando no ombro sussurrou aos meus ouvidos “_Você deve relatar ao meu pai o ocorrido”.
“_Que assim seja” _ Falou Crane. “_Mas que tu saibas que ele será liberado apenas para levar um aviso a teu pai... O povo de Stavianath atacará seu reino. Conquistará tua riqueza e matará suas filhas, pois nem a sim aplacaremos a dor da perda de nossa irmã, a filha de Stavianath.”
_ e foi assim que cheguei aos portões do reino, quase morto._Concluiu Gawdren em um lamento.
          _Obviamente vocês foram vitimas de um plano hediondo para começarem uma guerra conosco. Comentou um general.
          _Não teriam os próprios Stavianathos forjado essa tragédia para nos atacarmos. Comentou outro.
          _Não creio. Afirmou o rei. Mas seja qual for o desfecho dessa trama, temos que nos preparar para guerra.
_Nossos homens protegem fortemente todos os caminhos pelas cordilheiras, meu rei.
          _Não creio que nos atacaram pelas cordilheiras. Eles teriam que atravessar a floresta e eles sabem que nossas proteções pelos caminhos das cordilheiras são impenetráveis. Eles virão pelo mar. Darão uma longa volta para nos atacar vindo com o auxílio das frotas marítimas de cananor.
          _Cananor é do outro lado do continente meu rei. Demorarão muito até chegarem aqui.
          _Exato. Mas os Stavianathos querem vingança. Pretendem fazerem uma desonrosa chacina. E para isso eles esperarão pelos aliados. O que é a nosso favor pois assim poderemos nos prepararmos. Richon, como está nossa frota marítima?
          _Excelentes meu rei. Se eles vierem pelo mar nós os despacharemos para boca de Bël. 
          _Ótimo! Drovan, envie alguns dos seus melhores homens a Stavianath. Temos que nos manter um passo a frente dos movimentos deles. Se eles querem guerra, daremos a eles uma guerra. Estão dispensados.
“_Por Fandron, por Hellin-Odel!” Gritaram todos.
_ Urizeh, fique um momento. Pediu o rei.
_Sim, meu rei.
_Você é o mais velho entre nós, sabe como se sente um pai ante a inevitável morte de um filho. O que devo fazer?? Perguntava o rei choroso ao velho quando todos saíram.
_Não demonstre fraqueza meu rei. Seja forte e descubra o que realmente está acontecendo. Não será que alguém se passou pelo príncipe para incriminá-lo? Mas o príncipe se destaca em porte e beleza. Ninguém poderia se passar por ele... a não ser...
_Apenas abrace um pai que teme pela vida de seu filho meu velho amigo. Pediu o rei tristonho.                         
_Claro meu rei. O velho homem abraçou seu rei fraternamente. Como um pai que abraça o filho. O velho homem jamais entendeu a dor aguda em seu abdome. Nem o olhar frio e fixo do rei enquanto ele mesmo caía abraçando a eterna escuridão do fosso.
_Adeus velho amigo, você cumpriu seu destino satisfatoriamente. Disse o rei dando as costas para a escuridão do fosso.