A Máscara Invicta
IV Parte.
Por Eduardo Motta.
Um tenso nevoeiro cobrira tudo. Era impossível enxergar a
poucos metros à frente. No entanto, o homem não se incomodava com nada daquilo.
Tudo estava na mais completa paz. A voz da criatura na sua cabeça havia
desaparecido. A única coisa que restara era a dor, mas não ali.
O homem sabia que em algum lugar seu corpo era consumido por
uma dor lacerante, mas não ali entre as brumas. Ali ele apenas caminhava, ou
voava. Não sabia ao certo. Contudo, algo acontecera. As imagens eram vivas em
sua mente. Em algum lugar uma batalha aconteceu, podia se ainda sentir o cheiro
de sangue. Os gritos ainda reverberavam em sua cabeça, embora muito distantes. Sim.
Com o auxílio da memória era possível ver os olhos da criatura a espreitar um
grupo de caçadores que adentraram a floresta. “_O que procuravam ali?” Pensava.
A muito já não havia o que caçar. Todos os animais se foram. Um completo
silêncio que apenas a respiração do incauto grupo se insistia em se fazer
ouvida.
Não havia caça alguma isso era certo. Então qual o motivo
daquilo? “Não se vagam impunimente por
aquelas florestas”, já deviam saber. O símbolo dourado do dragão se agitava
a mais leve lufada de vento, como um sinal funesto.
E lá estavam todos eles. Uns dez ao todo. Não eram estranhos
ao homem, mormente o mais jovem, que fora em outros tempos, seu amigo. Mas foi há
tanto tempo, em uma época que não havia tanto sangue, tanta dor. Era um tempo feliz.
“_Morte a todos!”
Bradou a criatura.
“_Não.”Implorava o
homem, mas sabia a inutilidade daquela súplica.
“_Matarei todos os seus antigos amigos e
por último, o jovem duque. O que me diz?”
“_Não!!!” Gritava o
homem proferindo várias implicações, tudo vão.
Um horrível grito percorreu a
mata. A fera se atirou sobre um dos atentos caçadores. Debalde tentaram
socorrê-lo, mas só ficou uma grande mancha escarlate no solo e uma massa
ensanguentada que outrora fora um homem.
A criatura era muito rápida. Era quase impossível
acompanha-lo com o olhar, sobretudo por homens dominados pelo terror.
Um a um foram tombando os homens. Cada qual compondo uma
parte daquele terrível repasto. Propositalmente, o jovem duque era deixado para
o final. Isso tornava o homem cada vez mais angustiado. Nada podia fazer.
Então, quando tudo parecia sem solução, um agradável cheiro
se fez sentir, algo que lembrava casa, amor e sonhos. O coração do homem se
entristeceu grandemente. Agora ele estava acuado em algum canto, semelhante a
uma criança indefesa. A criatura pressentiu o perigo. De alguma parte, uma
figura envolta em um manto esverdeado sangue. A cabeça oculta e, no entanto um
raríssimo perfume lhe indicava sua identidade.
“_Ária”. Uma voz falou, já sem forças, o que chamou
instintivamente a atenção do monstro. A criatura abandonou o jovem duque e foi
de encontro da mulher que se apresentara. A fera urrou insanamente perturbando
até o homem de maneira estranha e logo em seguida, precipitou-se sobre Ária.
Ela, porém manteve-se firme. Apenas deu uns passos para trás
e proferiu algumas palavras incompreensíveis e imediatamente uma fagulha
brilhou entre seus dedos e tudo foi engolido por uma grande explosão. Havia
chamas em toda parte enquanto o a criatura era arremessada ao longe e o homem
caía junto ao solo com todo o seu corpo malferido pelas chamas. Um fogo
impetuoso que penetrou até seus ossos. Toda a sensibilidade de seu corpo
desapareceu enquanto o mundo ao redor se quedava numa imagem difusa. Tudo sumiu
por um espaço de tempo.
Contudo, como já era costume, a dor, os gritos e tudo aquilo
que aflige o coração, sempre retornam. Num breve momento ele viu o jovem duque
tombado ao solo com uma enorme ferida no peito sendo amparado por uma mulher. Ária,
não a de tempos atrás, e sim uma já a muito castigada pelos anos. Alguém cujo
impetuoso beijo da morte já lhe roubara o aspecto da vida.
O homem não teve tempo para refletir muito sobre o fato, pois
uma lâmina impiedosa penetrou-lhe nas costas, causando uma dor pungente. Um
brilho funesto apareceu diante de seus olhos. Como um raio aquela arma cruel se
projetava contra sua cabeça. Contudo, alguma coisa aconteceu. Disso o homem não
guardava memoria, mas, de qualquer forma ele vagava em meio às brumas ou talvez
voasse. Não sabia ao certo. A criatura havia desaparecido, mas podia sentir que
em algum lugar junto ao solo, seu corpo sofria o castigo de uma dor cruel. Mas
já não se importava com nada disso, uma vez que, entre as brumas nada fazia
diferença mesmo.
"...castigo de uma dor cruel." - Capa do meu novo CD! O autor esta inspirado, quero ver a próxima parte...
ResponderExcluir