segunda-feira, 25 de março de 2013

A Máscara Invicta_ Quinta Parte


A Máscara Invicta

V Parte.

Por Eduardo Motta.


“_Trimi”. Ecoava uma voz por entre as velhas ruínas, junto às antigas colunas deixadas pelos primeiros homens que habitavam a região da velha torre, símbolo de poder e glória encimada pela pedra do Dragão. _Trimi, onde está você? Insistia a mesma voz aflita, cheia de cuidados. Uma voz de mãe.
 Lá embaixo, junto ao velho regato estava uma criança; lutava contra soldados de pedra que ela mesma criara. Um pequeno porrete, sua espada. Contudo, a voz insistia muito aflita. O menino absorto em sua fantasia não ouvia nada. Então, tudo se esvaiu como num sonho. Aqueles dias foram ficando cada vez mais distantes.

“_Onde está Trimi?” Perguntou uma voz áspera há muito temperada nas agruras da vida. Uma voz de quem aos poucos foi perdendo o afeto, os sonhos. Uma voz ao qual o dever é seu único regente. O mais impiedoso dos monarcas.  
O jovem está distante. Lá embaixo ouvem-se os cavalos, o barulho da multidão. Vê-se o garbo dos cavaleiros. O duque está lá. Não veio só. Sua mais nova esposa veio também. Nada como o tempo para aplacar velhos amores.

“_TRIMI.” Chama a voz. Uma voz que espalha a desgraça. Que fala aos ouvidos dos degredados, dos desesperados, de quem sofre grande vexação. E o homem, após caminhar toda a noite, em meio à colina, solitário sob a luz dos astros, encontra uma velha máscara, sua única companheira naquele isolamento. O homem em seu infortúnio zomba de si mesmo, pois sabe que, seus desejos já não conta. Não tem direito algum. Deve se calar indefinidamente. Por toda uma vida talvez. Agora ele é apenas um cão. Errante pela noite. Seus trôpegos pés o levam até o velho regato. Ele mira-se nas águas, e sem saber por qual nefando designo, o homem coloca a velha máscara.
“_Trimi, Trimi...!” Chama a voz, doce e alegre. Uma voz que afaga e aconchega. _Trimi, onde você está? Mas o menino brinca entre as ruinas. Sua luta encarniçada contra um pétreo exército está apenas começando. _ “Trimi...!” Continua a voz. Mas o menino não responde.


É noite. Os astros noturnos já se mostram no firmamento. Radiantes. O homem vem vindo pelo caminho. Sobre o dorso, a caça. Uma espada curta pende em sua cintura. Ele está cansado, porem, feliz. A felicidade do dever cumprido. Ele sabe que em casa o esperam. Ter um lar onde se possa abrigar do frio. Perto da aldeia ele para. Lembra-se de um sonho. Um sonho que evocava outra vida, mas ele balança a cabeça e toma a direção de sua casa. Então ele tem uma casa... Mas como? Quando? Não se sabe ao certo. Um dia ele acordou. Vagara demasiado tempo num pesadelo. Isso sim sabia. Seu corpo ardia, mas as feridas se foram assim como qualquer outra lembrança de uma vida anterior.

Dizem os aldeões que num dia, quando os homens atrás de alimentos vasculharam bem mais ao norte a floresta, depararam com vestígios de alguma batalha acontecida. E um pouco mais afastado da cena, estava um homem malferido. Achavam que morreria logo, mas assim não foi e os homens decidiram trazê-lo para a aldeia embora não nutrisse a esperança de poder salvá-lo tamanha era à gravidade de seus ferimentos.
Os dias transcorreram. O homem não morrera. Apegara-se a vida, a despeito de suas muitas chagas. A febre veio e se foi. Também as convulsões e os delírios. E todos os males de um corpo extenuado. Só que como por milagre todos partiram, carregando consigo até o último vestígio da memoria. O homem se recuperou, mas parte da sua memoria estava perdida, talvez para sempre.  “_Qual é o seu nome?” Indagavam. Ele não o sabia. Por mãos que tentasse, era inútil. Tinha isto ao certo. Afinal não há coisa que caminhe, voe, nade, rasteje e tantas outras coisas que se possa numerar que não possua um.  Por fim, deu lhe um nome cujo significado era “viajante”, pois era essa sua condição temporal e atemporal.
Como não tivesse onde se alojar fora acolhido por um casal de idosos da aldeia onde era tratado como um filho pelo gentil casal. Filho este que morrera de febre anos atrás. Em retribuição, ele fazia todas as tarefas que se exigia grande esforço. Além da caça, na qual se destacava grandemente. E assim, os dias foram se passando. E pela primeira vez em muito tempo o homem se sentia parte de algo Contudo, uma sombra ainda comprimia seu coração. Em algum lugar algo o espreitava. Não sabia onde, mas o sentia. Percorria a mata a noite na certeza de encontrar, porem, não havia nada. Somente o silencio atroz. Esse sim estava presente.